EM MONTE MOR

Padrasto acusado de matar criança a paulada é pedagogo

Cirilo Abe Barreto, de 46 anos, formado pela Unicamp e docente em Hortolândia, segue preso

Alenita Ramirez/ [email protected]
02/05/2024 às 09:09.
Atualizado em 02/05/2024 às 09:09
Colegas colocaram bonecas sobre o caixão, em homenagem ao gosto da criança por esses brinquedos (Divulgação)

Colegas colocaram bonecas sobre o caixão, em homenagem ao gosto da criança por esses brinquedos (Divulgação)

O delegado de Monte Mor, Fernando Bueno de Castro, planeja ouvir nesta quinta-feira (2) a família de Luiz Fellipe Daruli, de 12 anos, que faleceu na tarde do último sábado após ser submetido a uma série de agachamentos e ter sido agredido com uma ripa de madeira pelo padrasto, Cirilo Abe Barreto, de 46 anos. Barreto, professor formado em pedagogia pela Unicamp e docente na Escola Estadual Euzébio Antônio Rodrigues, em Hortolândia, está preso preventivamente.

A Polícia Civil quer esclarecer a relação entre Barreto e Luiz Fellipe e compreender o convívio dos dois. Além de investigar a causa da morte, o delegado também apura se as agressões foram motivadas por homofobia. Castro aguarda o laudo do Instituto MédicoLegal (IML) para determinar se a morte de Luiz Fellipe está ligada à agressão e ao exercício relatado por Barreto em seu depoimento.

Amigos e professores de Luiz Fellipe relataram que a vítima era aberta sobre sua orientação sexual. A criança demonstrava interesse em brincar com bonecas e frequentemente usava pulseiras. Ela também teria comentado com colegas de escola que era ameaçada pelo padrasto e temia as possíveis reações de sua família sobre sua identidade.

No enterro de Luiz Fellipe, colegas fizeram questão de colocar bonecas sobre o caixão, em homenagem ao gosto da criança por brincar com esses brinquedos.

Luiz Fellipe era estudante do 6º ano na Escola Municipal San Remo. No primeiro semestre de 2023, a direção da escola enviou informações ao Setor de Apoio Especializado sobre suspeitas de maus-tratos contra o menino. Segundo a prefeitura, os profissionais seguiram os protocolos de atendimento e deram todo o suporte necessário às partes envolvidas, como a Unidade Escolar e a mãe da vítima. Após avaliação técnica, em junho de 2023, o caso foi encaminhado de forma protocolar ao Conselho Tutelar.

Representantes do Conselho Tutelar não comentaram o caso, justificando que se trata de um menor de idade e, portanto, corre em segredo de Justiça. Eles destacaram que cabe à Polícia Civil conduzir as investigações.

O Conselho Tutelar atende cerca de 200 denúncias por ano relacionadas a possíveis violações de direitos de crianças e adolescentes. No ano passado, houve 58 casos relatados, enquanto nos primeiros quatro meses deste ano já foram 14. "Todas as denúncias são apuradas e medidas protetivas previstas na Lei Federal 8069/90 são aplicadas. O órgão lamenta o ocorrido com o adolescente", afirmou o Conselho Tutelar em nota.

As denúncias podem ser feitas pelos canais do próprio Conselho Tutelar (3879-2314), Guarda Civil Municipal (GCM) 153, Polícia Militar (PM) 190 ou Disque Denúncia da Ouvidoria dos Direitos Humanos no número 100.

A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (SeducSP) emitiu uma nota lamentando profundamente a morte de Luiz Fellipe e repudiando qualquer forma de violência, seja dentro ou fora da escola. A Diretoria de Ensino de Sumaré iniciou o processo de extinção contratual do professor temporário e se colocou à disposição das autoridades para colaborar nas investigações.

O CASO

No dia da tragédia, Luiz Fellipe estava com o pai na casa da família, no Jardim Campos dos Dourados, enquanto a mãe trabalhava. De acordo com depoimento de Cirilo Abe Barreto à polícia, a criança teria desobedecido uma ordem dele, levando-o a impor uma punição que consistiu em uma série de agachamentos. A quantidade de exercício aplicada não foi informada.

Durante os agachamentos, Luiz Fellipe teria se comportado de maneira "desrespeitosa e zombeteira", o que levou Barreto a agredi-lo com ripas nas pernas. Posteriormente, ele levou o enteado para dentro de casa e lhe deu água. Luiz Fellipe reclamou de dores, mas Barreto interpretou como uma manha.

Por volta das 17h, a mãe chegou do trabalho e encontrou o filho passando mal no sofá. Ela, com a ajuda de Barreto, tentou reanimá-lo, mas não obteve sucesso e acionou o serviço de emergência.

Um socorrista que atendeu o chamado relatou à reportagem que Luiz Fellipe já apresentava sinais de cianose (roxo na boca e nas mãos), estava molhado e coberto de vômito, vestindo apenas uma bermuda. Os socorristas estranharam a calma de Barreto em contraste com o nervosismo da mãe. Segundo a prefeitura, os médicos constataram que a criança já estava morta e acionaram a Guarda Civil Municipal (GCM) por suspeitarem de agressão.

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