BASTIDORES DAS DELEGACIAS

Como são escolhidos os nomes das operações policiais

Corporações responsáveis pela segurança pública de Campinas e região dão um show de criatividade ao nominar suas investigações

Alenita Ramirez/ [email protected]
25/03/2024 às 08:47.
Atualizado em 25/03/2024 às 08:47
O chefe da Delegacia da Polícia Federal em Campinas, Edson Geraldo de Souza, busca inspiração em um dicionário de mitologia grega para nomear de forma criativa uma operação policial (Rodrigo Zanotto)

O chefe da Delegacia da Polícia Federal em Campinas, Edson Geraldo de Souza, busca inspiração em um dicionário de mitologia grega para nomear de forma criativa uma operação policial (Rodrigo Zanotto)

A criatividade na nomeação das operações das polícias Federal, Civil e Militar, da Guarda Municipal e do Ministério Público em Campinas e região tem se destacado, tornando-se até mesmo uma marca reconhecível. Entre todas as unidades, a Polícia Federal de Campinas e a Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes (Dise) de Americana são as que mais se destacam ao divulgar os nomes das operações para a imprensa. Nomes como Deverra, Escudo da Inocência, Giardino, Apateones, Malta, Sentinela, Per La Foi, Caixote, Europa, Prensa e Avaritía são apenas alguns exemplos das denominações utilizadas pelas corporações para distinguir e individualizar cada investigação.

"Normalmente, os nomes são escolhidos pela própria equipe de investigação. Cerca de 70% das operações aqui tiveram nomes sugeridos por mim, mas recentemente os membros da equipe se animaram e começaram a contribuir com sugestões. Eles costumam escolher com base no tema central da operação", explicou o delegado-chefe da PF de Campinas, Edson Geraldo de Souza.

Na Polícia Civil, a seleção dos nomes também fica a cargo das equipes de investigação, muitas vezes com sugestões do delegado encarregado do caso. Em operações de abrangência estadual, a escolha é feita pelos órgãos do Governo Estadual, como a Desenvolve-SP, ou pela Delegacia Geral da Polícia Civil. A única restrição é evitar termos pejorativos ou referências diretas a suspeitos ou investigados. A diversidade de formações acadêmicas dentro das corporações contribui para a criatividade, resultando em escolhas muitas vezes inusitadas. As inspirações para os nomes podem vir de uma variedade de fontes, como lugares, períodos históricos, alvos das investigações, filmes, pratos culinários, expressões populares, termos científicos e referências religiosas. Até mesmo personagens da mitologia grega são utilizados como fonte de inspiração.

"Eu costumo dar nomes que façam alguma alusão ao alvo das investigações e sempre defino com a equipe", disse um dos delegados da Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Campinas, Luiz Fernando Dias de Oliveira.

Na Delegacia de Investigação Sobre Entorpecentes (Dise) de Americana, a maioria das vezes é o agente de polícia Emerson Siqueira quem escolhe os nomes das operações. Ele geralmente os nomeia com base nos bairros envolvidos, mas também considera os alvos da investigação. "Como sou responsável por redigir os comunicados à imprensa para divulgar nossos trabalhos, costumo sugerir o nome da operação, porém sempre submeto à aprovação da autoridade policial", explicou Siqueira.

Para o delegado da Polícia Federal, é fundamental que o nome da operação seja criativo e diferente. Isso se deve ao fato de que cada operação corresponde a um inquérito, e os números de inquérito são longos, começando com o ano seguido de outros conjuntos de números. Os nomes das operações são projetados para facilitar a identificação rápida e fácil da ação pelos agentes. "Antes de atribuir um nome a uma operação, fazemos uma pesquisa no Google para garantir que não tenha sido utilizado anteriormente. Em outras palavras, consultamos a mídia. Se já existir, escolhemos outro nome. O nome da operação serve como uma forma de lembrarmos daquele momento histórico. Por isso, todas as operações recebem nomes aqui", explicou o delegado da PF, que costuma recorrer a um dicionário de mitologia grega em busca de nomes criativos. "O nome da operação geralmente reflete a natureza da investigação. Por exemplo, Deverra, que é a deusa que cuida dos bebês, todo mundo sabe que é uma referência à operação sobre tráfico de bebês em Campinas", destacou.

Na Polícia Federal de Campinas, uma variedade de nomes criativos é utilizada para nomear as operações. Entre 2019 e o ano passado, foram deflagradas 68 operações, todas elas nomeadas com referências específicas, como Giardino (um desdobramento da Operação Medcruz), Apateones, Malta, Sentinela, Body Packing, Insídia, Rompot, Caterva, Occulta Pecunia II, Deep Bank, No-show, Impuratus, Vulnerare, Harpia, Falcão Peregrino e Aboiz. "Houve vários nomes que me chamaram a atenção, como Deep Bank, Clandestine Bank, que se referia a um banco clandestino e doleiros. Achei o nome sensacional", comentou Souza.

Na Dise de Americana, a partir de 2019, os nomes das operações passaram a ser destacados, incluindo títulos como "Jus Puniendi", "Cerberus", "Fronteira" (já na sua 8ª fase), "Delivery", "Paiol", "Rodovia Segura", "Caixote", "Europa" e muitos outros. "O nome que mais gostei foi 'Jus Puniendi', que representa o direito do estado de punir. Nessa operação, prendemos 11 pessoas de uma organização criminosa envolvidas com um tribunal do crime em Americana e região", explicou Siqueira.

Em Campinas, uma das operações de destaque foi o "Prensa", que teve como alvo as emplacadoras de veículos na cidade, sendo desencadeada pela Delegacia de Investigações Gerais (DIG).

A Dise de Campinas também adotou nomes criativos para suas operações, como "Quaresma", na qual os agentes apreenderam 2,5 toneladas de maconha destinadas à distribuição na cidade e região durante o período de carnaval. No entanto, a carga atrasou e foi localizada posteriormente em uma oficina mecânica em Guarulhos. Outro exemplo foi a operação "Escola", que fazia referência ao tráfico de drogas nas proximidades de unidades educacionais. "Quando não conseguimos uma ideia imediatamente, reunimos a equipe e pensamos juntos em um nome apropriado para a operação", explicou o investigador da Dise, Marcelo Hayashi.

O Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público (MP), Polícia Militar (PM) e Guarda Municipal (GM) também costumam nomear suas operações. No ano passado, por exemplo, o Gaeco campineiro deflagrou a Operação Sumidouro, contra traficantes que usavam galerias de águas pluviais para praticar o tráfico, com desfecho de uso de três ônibus do transporte público de uma cooperativa para lavagem de dinheiro.

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