EDITORIAL

O dilema entre a natureza divina e o mal

Do Correio Popular
22/04/2024 às 09:26.
Atualizado em 22/04/2024 às 09:26
O dilema entre a natureza divina e o mal (Reprodução)

O dilema entre a natureza divina e o mal (Reprodução)

O problema do mal é um tema central em filosofia, que trata da aparente contradição entre a existência do mal no mundo e a presença de um Deus onipotente, onisciente e benevolente. Este dilema é uma questão central na teologia e na filosofia da religião, desafiando os pensadores há séculos a encontrar uma reconciliação entre esses aspectos aparentemente conflitantes. Santo Agostinho acreditava que o mal não é uma entidade ou substância em si, mas sim uma ausência ou privação de bem. Argumentou que o mal surge quando as criaturas racionais se afastam do bem supremo, que é Deus, ao exercerem seu livre arbítrio de maneira errada. Dessa forma, a presença do mal no mundo não refuta a bondade de Deus, mas reflete as escolhas erradas dos seres humanos e de outros seres livres. A abordagem agostiniana tem sido uma das principais referências para se tentar explicar a relação entre a existência de Deus e a presença do mal no mundo.

Já David Hume, filósofo escocês do século XVIII, abordou o problema do mal de uma perspectiva empírica e cética. Hume questionou a compatibilidade entre um Deus onipotente e benevolente e a existência de males naturais e morais no mundo. Em sua obra Diálogos sobre a Religião Natural, ele argumentou que a presença do sofrimento e da injustiça sugere uma falha na concepção de Deus ou, alternativamente, que nossa compreensão da divindade pode estar equivocada. Por sua vez, John Hick, filósofo britânico contemporâneo, propôs uma abordagem chamada teodiceia da "alma-moldura" ou "soul-making". Segundo Hick, o mal é uma parte do processo de desenvolvimento moral e espiritual dos seres humanos. Ele sugere que o mundo é uma espécie de "oficina" onde as pessoas enfrentam desafios e adversidades para crescerem em virtude e caráter. Essa visão oferece uma perspectiva diferente ao problema do mal, pois o considera parte integrante do processo de aperfeiçoamento humano, inserindo-o num contexto mais amplo de crescimento espiritual.

Em síntese, o problema do mal continua sendo um tema instigante e complexo, envolvendo questões profundas sobre a natureza de Deus, a liberdade humana e o propósito da existência. Os filósofos têm proposto diversas abordagens para lidar com essa questão, desde a visão agostiniana da privação do bem até a perspectiva humeana do ceticismo e a teodiceia de Hick. Essas diferentes perspectivas refletem a diversidade de respostas filosóficas ao problema do mal, que permanece uma das questões mais desafiadoras da filosofia e da teologia. Bom domingo!

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