PATRIMÔNIOS HISTÓRICOS

Cultura quer substituir material de monumentos para evitar furtos

Sugestão foi encaminhada ao Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas; peças sem valor comercial ajudariam a inibir ação de bandidos

Da Redação
05/05/2024 às 10:51.
Atualizado em 05/05/2024 às 21:12
Monumento-túmulo que homenageia o compositor campineiro Carlos Gomes (Kamá Ribeiro)

Monumento-túmulo que homenageia o compositor campineiro Carlos Gomes (Kamá Ribeiro)

A Secretaria de Cultura e Turismo de Campinas vai enviar uma proposta para que o Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc) avalie se bustos e peças de bronze dos monumentos expostos em praças e parques podem ser substituídos por materiais sem valor comercial. A proposta é de uma empresa especializada na produção de peças sem valor comercial e pretende evitar furtos e atos de vandalismo nos monumentos.

Em abril, a Prefeitura anunciou a criação de uma força-tarefa justamente com o objetivo de proteger os monumentos históricos dos furtos e depredações. De acordo com informações divulgadas pela Prefeitura, a empresa é a Soluart Soluções Artísticas, instalada na cidade de Botucatu. Ela produz esculturas em diversos materiais que podem evitar o uso de bronze, que é muito visado por ladrões pelo seu alto valor comercial. A empresa garante que o uso de materiais alternativos não compromete o aspecto visual das obras. A Prefeitura calcula que, anualmente, os crimes contra os monumentos e bens públicos em Campinas resultam em prejuízos na ordem de R$ 1 milhão.

A proposta ainda é embrionária e será submetida ao Condepacc. Ainda não é possível dizer, segundo a assessoria de imprensa da Prefeitura, o que seria feito com as peças e esculturas que estão atualmente em exibição em áreas públicas ou mesmo quais delas seriam substituídas. O município tem atualmente 115 monumentos tombados como patrimônio pelo Condepacc. O número de quantos deles poderão ser substituídos por material alternativo requer avaliação a partir de critérios técnicos.

FORÇA-TAREFA

Em abril, diante dos recorrentes furtos e atos de vandalismo que assolam os monumentos históricos de Campinas, órgãos municipais e entidades da sociedade civil organizaram uma força-tarefa com o objetivo de proteger esses ícones culturais. O impulso para a criação desse grupo de trabalho foi a pichação do novo totem do Guarani, vandalizado apenas 12 horas após sua inauguração. A ação rápida evidenciou a urgência de medidas preventivas diante da crescente degradação de bens públicos pela cidade. Instalado na Praça Carlos Gomes em homenagem aos 113 anos do clube, o totem amanheceu coberto por inscrições e manchas pretas.

A missão primordial dessa iniciativa é analisar e definir estratégias para a restauração das peças danificadas, além de avaliar tecnologias eficazes no combate ao vandalismo, incluindo possíveis soluções baseadas em inteligência artificial. O monumento-túmulo do maestro Carlos Gomes, figura icônica da história campineira, foi eleito como prioridade pela nova força-tarefa. Entretanto, outras edificações históricas também serão alvo de atenção. À época, a secretária municipal de Cultura e Turismo, Alexandra Caprioli, afirmou que os esforços iniciais seriam concentrados em um projeto-piloto fundamentado no monumento-túmulo, mas que seria apenas um ponto de partida para intervenções em outros monumentos que demandam proteção.

Monumento de Cesar Bierrenbach, localizado no Largo do Carmo, em frente à Basílica Nossa Senhora do Carmo (Kamá Ribeiro)

Monumento de Cesar Bierrenbach, localizado no Largo do Carmo, em frente à Basílica Nossa Senhora do Carmo (Kamá Ribeiro)

Ainda em relação à forçatarefa, a Secretaria anunciou na ocasião que o trabalho teria duas frentes fundamentais. A primeira etapa busca restaurar os monumentos danificados, enquanto a segunda abordará questões relacionadas à segurança e vigilância desses locais. Em outra iniciativa voltada para a proteção do patrimônio histórico e cultural da cidade, a Guarda Municipal anunciou a formação de um Grupo Antivandalismo em setembro de 2023. Composto por agentes treinados, o grupo utiliza recursos de inteligência, incluindo monitoramento de redes sociais, para identificar e deter os responsáveis por danos ao patrimônio. Além disso, os agentes de segurança operacionais estão alertas durante as rondas e prontos para intervir diante de qualquer situação suspeita.

O surgimento desse grupo se deu em meio a um aumento preocupante de atos de vandalismo. Também em setembro de 2023, cerca de 40 mudas de árvores recémplantadas na Avenida Soldado Percílio Neto, no bairro Taquaral, foram destruídas. Da mesma forma, a pista de skate street da Lagoa do Taquaral foi alvo de pichações em dois eventos distintos dentro de um intervalo de quatro dias no ano passado. Além disso, foram relatadas depredações nos banheiros da área esportiva local, danos a placas de informação e vandalismo em dois parquinhos infantis nos Jardins Maracanã e Eulina.

Segundo a assessoria de imprensa, a sugestão de usar materiais com pouco valor no mercado ainda não é uma ação direta da força-tarefa. No entanto, caso seja aprovada pelo Condepacc e colocada em prática, pode ser uma ação integrada.

O prejuízo estimado leva em consideração não apenas os materiais danificados, mas também as horas de trabalho necessárias para reparar ou repor o patrimônio depredado. O secretário municipal de Serviços Públicos, Ernesto Dimas Paulella, lamentou o desperdício de recursos que poderiam ser direcionados para outras obras ou projetos de importância para a cidade. Segundo ele, o montante de R$ 1 milhão gasto com a recuperação dos monumentos vandalizados seria suficiente para construir dois campos de futebol completos, equipados com alambrados e iluminação, ou ainda para criar um parque ecológico de 100 mil metros quadrados. Essa quantia também equivaleria à urbanização de três praças de médio porte ou ao recapeamento de 5 quilômetros de vias públicas.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por