SAÚDE MENTAL

Acordo tripartite quer reduzir transtornos mentais ligados ao trabalho

Secretaria de Saúde de Campinas, Unicamp e MPT-15 assinaram termo de cooperação para criar políticas de prevenção e assistência

Da Redação
24/04/2024 às 08:52.
Atualizado em 24/04/2024 às 08:52
A coordenadora da Saúde do Trabalhador de Campinas, Christiane Sartori, explicou que a capacitação vai preparar equipes de saúde para avaliar o que o paciente está sentindo e se há uma conexão com o emprego (Alessandro Torres)

A coordenadora da Saúde do Trabalhador de Campinas, Christiane Sartori, explicou que a capacitação vai preparar equipes de saúde para avaliar o que o paciente está sentindo e se há uma conexão com o emprego (Alessandro Torres)

A Secretaria de Saúde de Campinas, o Ministério Público da 15ª Região (MPT-15) e a Unicamp assinaram um termo de cooperação nesta terça-feira, 23 de abril, para desenvolver políticas de atendimento e prevenção aos transtornos mentais e suicídios relacionados ao trabalho. O acordo foi firmado em evento realizado na Sala Azul da Prefeitura. Entre as novidades, está um projeto-piloto, com adesão das três instituições, para melhorar notificações e a busca ativa de casos nas unidades de saúde. O evento também contou com o lançamento de um painel que mostra um aumento de acidentes de trabalho entre 2020 a 2023 na área do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest) de Campinas, saltando de 270 para 2.125. 

O projeto-piloto vai começar a ser implementado com profissionais da saúde primária dos centros de saúde Rosália e Vila Padre Anchieta, ambos na região Norte de Campinas, e com trabalhadores dos serviços de atendimento de urgência e emergência. A etapa inicial, que terá dois anos, tem como objetivo a criação de protocolos de atendimento para casos de transtornos mentais e tentativas de suicídio de trabalhadores. Serão definidas também ações para qualificar as notificações, uma vez que a avaliação é que esse tipo de problema é subnotificado.

UNICAMP FARÁ CAPACITAÇÃO

A Unicamp atuará na capacitação das equipes de saúde de Campinas que trabalham nas unidades básicas e nos atendimentos de urgência e emergência, com propósito de ampliar o olhar na assistência. Em paralelo, a Saúde, por meio do Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa), fará um acompanhamento do trabalhador e verificará o que pode ser melhorado no ambiente laboral para evitar ou interromper as causas do problema.

“O paciente que eu estou atendendo, o que ele está apresentando, o que ele está sentindo? Tem uma relação com o trabalho? Tendo essa relação com o trabalho, nós vamos fazer a notificação, seja um agravo, um acidente de trabalho que ele sofreu, para ter esses dados", explicou a coordenadora da Saúde do Trabalhador do município, Christiane Sartori. Ela acrescentou que, além de fazer o atendimento para os trabalhadores próximo ao local de suas residências, será possível cruzar as informações com dados da empresa em que trabalha para possíveis ações, intervenções no local.

Professora do Departamento de Saúde Coletiva da Unicamp, Márcia Bandini destacou que o papel da universidade sempre é o de dar suporte técnico, desenvolver pesquisar e promover debates e as publicações que "possam subsidiar o desenvolvimento de novos protocolos". "Nós esperamos que essa parceria possa render muitos frutos e trazer benefícios para a sociedade como um todo", avaliou.

De acordo com o procurador do trabalho, Mário Antonio Gomes, os transtornos mentais relacionados ao trabalho já representam a segunda maior causa de afastamentos, e muitas vezes a empresa não reconhece esse afastamento como sendo relacionado à atividade profissional do funcionário.

"Essa é uma doença insidiosa, lenta, que muitas vezes as pessoas têm uma certa dificuldade em reconhecer, até por preconceito, e que precisa ser informada para a população. Se o ser humano adoece fisicamente, ele pode adoecer mentalmente. Esse projeto traz luz ao problema e pretende fazer com que a rede pública esteja capacitada e em condições de reconhecer uma doença mental como sendo relacionada ao trabalho para se prevenir o agravamento", explicou.

Antonio Gomes acrescentou que a instituição receberá as informações para a instauração de inquéritos nos casos que forem mapeados de empresas qeu contam com um grande número de afastamentos com esse tipo de adoecimento.

O prefeito de Campinas, Dário Saadi (Republicanos), também presente no evento, ressaltou a importância de se discutir e propor ações concretas em prol da redução dos transtornos mentais ligados ao trabalho, reduzindo também o índice de suicídios. 

ESTATÍSTICAS

O Cerest, que além de Campinas atende a mais oito municípios da Região Metropolitana de Campinas - Americana, Artur Nogueira, Cosmópolis, Hortolândia, Nova Odessa, Paulínia, Sumaré e Valinhos -, recebeu 4.568 notificações, sendo 64% relacionadas a acidentes de trabalho (2.923 registros) e 36% a acidentes com exposição a material biológico (1.645). Essa quantidade foi acumulada do primeiro dia de 2020 até 18 de abril de 2024.

As notificações têm crescido ano após ano. Em 2020, foram 270. Em 2021, 353 (aumento de 30,7%). No ano seguinte a quantidade mais que dobrou, indo para 830, 135% de crescimento. No ano passado, 2023, mais uma vez o crescimento foi bastante expressivo, 156%, com 2.125 acidentes notificados.

Até agora, foram 537 acidentes informados ao Cerest em 2024. Desse total, 375 notificações são referentes a pessoas que moram em Campinas. Em 93 dos casos foi emitida a Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT), sendo que a área da Saúde aparece em destaque com a primeira e terceira ocupação com mais notificações, respectivamente técnico de enfermagem (21,48%) e enfermeiro (10,74%).

O ano de 2024 acumula três óbitos por acidentes de trabalho, uma mulher, na faixa etária entre 20 e 29 anos, e dois homens, um de 30 a 39 anos e outro que tinha entre 50 e 59. 

A Prefeitura de Campinas ressaltou que os trabalhadores que tiverem dúvidas sobre o tema podem procurar por informação, apoio e assistência junto aos 68 centros de Saúde de Campinas, ao Cerest e ao MPT-15, instituição que atua em 599 cidades paulistas, mas que é sediada na metrópole.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por