TREM INTERCIDADES

Acordo para concessão do TIC deve sair em 40 dias

Secretaria Estadual de Parcerias em Investimento tem a expectativa de antecipar em cerca de um mês a assinatura do contrato com o consórcio vencedor da concorrência

Edimarcio A. Monteiro/ [email protected]
23/04/2024 às 09:01.
Atualizado em 23/04/2024 às 09:01
O projeto do Trem Intermetropolitano inclui a construção de uma nova estação de passageiros em Valinhos, mas a antiga (foto) também receberá intervenções no entorno (Rodrigo Zanotto)

O projeto do Trem Intermetropolitano inclui a construção de uma nova estação de passageiros em Valinhos, mas a antiga (foto) também receberá intervenções no entorno (Rodrigo Zanotto)

A assinatura da concessão do Trem Intercidades (TIC) São Paulo-Campinas (Eixo Norte) deverá ser antecipada e realizada dentro de 40 dias, com o empreendimento contribuindo também para o resgate da história das ferrovias na região. A Secretaria Estadual de Parcerias em Investimentos divulgou na segunda-feira (22) que entre o final de maio e começo de junho é a previsão para que seja firmado o contrato entre o governo paulista e o consórcio sino-brasileiro C2 Mobilidade sobre Trilhos, vencedor da concorrência internacional para implantação do empreendimento, orçado em R$ 14,2 bilhões.

O prazo previsto na licitação era de 120 dias contados a partir da abertura das propostas, o que ocorreu no dia 29 de fevereiro, ou seja, a assinatura ocorreria inicialmente entre o final do primeiro e início do segundo semestre deste ano. A confirmação da vitória da C2 ocorreu no final de março, após a empresa fazer o depósito de garantia de cumprimento da obrigação de firmar o instrumento contratual no valor de R$ 140 milhões, exigência prevista na licitação, e o governo realizar a abertura, julgamento e aprovação dos documentos do Envelope C, que envolve a habilitação jurídica, regularidade fiscal, trabalhista, qualificação econômica financeira e qualificação técnica da vencedora.

O consórcio é formado pela brasileira Comporte Participações S.A., dona de 60% das ações e pertencente à família Constantino, fundadora da Gol Linhas Aéreas, e a chinesa CRRC Hong Kong Co. Limited, que detém os outros 40%. A partir da assinatura do contrato, a C2 terá 180 dias para assumir os serviços. Ela será responsável pelas implantações do TIC, do Trem Intermetropolitano (TIM) e passará a ser responsável pela operação e modernização da Linha 7-Rubi, atualmente mantida pela Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e que liga Jundiaí e a capital. 

As obras dos novos empreendimentos estão previstas para começar no segundo semestre de 2025, com conclusão em 5,5 anos. O TIM, que ligará Campinas, Valinhos, Vinhedo, Louveira e Jundiaí, está programado para começa a circular em 2029. Já o TIC está previsto para ser inaugurado em 2031, sendo um serviço expresso entre São Paulo e Campinas, com parada apenas em Jundiaí.

HISTÓRIA

A retomada do transporte ferroviário de passageiros na região marcará também a retomada de um serviço secular, mas que está desativado há 30 anos. “O último trem de passageiros parou aqui em 1994”, lembrou o diretor de Patrimônio Cultural de Valinhos, Alex Kiton. A primeira estação de trens da cidade foi inaugurada em 31 de março de 1872, sendo também considerada a primeira edificação urbana. O município surgiu e se desenvolveu em torno do prédio que ainda segue de pé, ocupado hoje por herdeiros dos funcionários da então Companhia Paulista de Estradas de Ferro, que depois veio a ser a Ferrovia Paulista S.A. (Fepasa). Ela também tem um papel importante na história da cidade por ser o corredor de escoamento da produção de café e ponto de chegada dos imigrantes italianos.

Em 1912, essa estação foi desativada e substituída por outra maior e mais moderna na época. Após o fim dos trens de passageiros no município, em 1996, esse prédio passou a ser o Museu e Acervo Municipal Fotógrafo Haroldo Ângelo Pazinatto, que mantém exposições fixa e itinerantes. A charmosa construção foi recém-pintada e recebeu restauração da alvenaria. Ela também recebe eventos culturais, como apresentações da Orquestra de Valinhos, encontros de carros antigos, vendas de artesanato e doces locais.

Uma segunda etapa da revitalização, que tem um custo total de R$ 600 mil, prevê a pintura da estrutura metálica de proteção para embarque e desembarque de passageiros da estação. Esse serviço aguarda a autorização da Rumo Logística, empresa de transporte de carga e que detém o direito de exploração do ramal ferroviária, para a realização.

O projeto do TIM também prevê a construção de uma nova estação de passageiros a cerca de 200 metros, na direção de Campinas, mas a antiga também receberá intervenções no entorno. As modificações estão em fase de análise no Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat), já que se trata de um prédio tombado pelo órgão que é subordinado à Secretaria Estadual de Cultura do Estado.

Estão previstas a reforma do estacionamento, instalação de rampas de acesso e ampliação do espaço e substituição da linha férrea por outra de bitola (largura) menor, de 1,6 metro, para passagem dos trens Intercidades e Intermetropolitano.

Em Valinhos, também está prevista a construção de um pontilhão na Avenida Paulista, uma das mais movimentadas, para acabar com o conflito do trânsito. Atualmente, os veículos precisam cruzar a linha de trem para acessar a Rua Antônio Luiz Gabetta, no Jardim São Pedro. Alex Kiton espera que o TIC Eixo Norte marque o renascimento do transporte de passageiros por trem. “Na Europa, é um serviço barato e eficiente”, disse o diretor de Patrimônio Cultural, um incentivador desse meio de transporte.

CAMPINAS

A Secretaria Estadual de Parcerias e Investimentos divulgou que as intervenções que serão feitas nas estações ao longo do empreendimento serão definidas pela C2 Mobilidade sobre Trilhos no projeto executivo da obra. Uma delas é a Estação Cultura (antiga Fepasa), no Centro de Campinas, um prédio que em agosto completará 152 anos e é de uma época em que a chegada da linha do trem era sinônimo de desenvolvimento de uma cidade. Ela marcou a extensão da linha férrea de Jundiaí até Campinas, passando a ser a principal ligação da cidade com o Porto de Santos para exportação do café, com o trem substituindo os burros, jegues e mulas que faziam o transporte em longas e demoradas viagens por estradas de terra.

A estrada de ferro “foi fundamental para grandes transformações, tanto do ponto de vista urbano quanto arquitetônico e econômico (de Campinas)”, explicou a arquiteta, urbanista e historiadora Ana Villanueva. Ela lembrou que pouco antes da chegada da linha de trem, em 1869, Campinas tinha em torno de 8 mil habitantes, 1,4 mil prédios, 41 ruas e 175 estabelecimentos comerciais.

O barbeiro Luiz da Conceição, figura famosa da estação, espera que o TIC traga de volta os passageiros e a revitalização da área central, mas não esconde a desconfiança em relação ao projeto. “Todo governador diz que vai reativar o trem”, afirmou com um tom de ceticismo na voz e motivado pela experiência de quem viveu o apogeu e a decadência da estação. Ele exerce a profissão há 68 anos e ocupa o Salão Internacional, que fica na parte externa do prédio, desde 1968, quando ganhou a concessão.

“Com dois ajudantes, cortávamos 90 cabelos por dia. Eu também era responsável pelo depósito de malas e volumes, onde trabalhavam dois funcionários. Chegamos a guardar 350 malas num dia”, recorda. O último trem de passageiros deixou a estação, rumo a Bauru, em março de 2021. Os viajantes desapareceram, o serviço de guarda-volume não existe mais e as poucas pessoas que passam pelo prédio durante a semana são funcionários da manutenção e segurança ou pedestres que usam o local como atalho para ir da Vila Industrial para o Centro.

“Eu sobrevivo porque tenho uma clientela fiel”, explicou Luiz da Conceição. Ele guarda com orgulho um caderno que começou a receber registros com elogios dos clientes em 1969. O barbeiro também guarda na memória clientes famosos e ilustres que passaram pelo salão, com o ex-prefeito José Roberto Magalhães Teixeira, Valter Zink Filho, diretor da então Companhia Paulista de Estradas de Ferro, e os ex-jogadores de futebol Zenon e Neto, além do ex-técnico Zé Duarte, da época que defendiam o Guarani. 

Apesar da cisma de Luiz da Conceição, a Prefeitura de Campinas tem planos ambiciosos para o complexo ferroviário, formado por 46 prédios. Além da volta dos trens de passageiros, estão previsto para o local a construção do shopping dos camelôs e a administração planeja a instalação de restaurante, prédios residenciais, área de lazer e um parque científico para a instalação de startups e laboratórios de tecnologia. Um passo já foi dado em relação ao Prédio do Relógio, que foi revitalizado para sediar uma mostra de arquitetura e decoração e depois será usado como um centro cultural e para a realização de eventos, feiras e exposições.

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